GRUPO ESCOLAR
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No território brasileiro os grupos escolares foram criados inicialmente no Estado de São Paulo em 1893, enquanto uma proposta de reunião de escolas isoladas agrupadas segundo a proximidade entre elas. Os grupos escolares foram responsáveis por um novo modelo de organização escolar no início da República, a qual reunia as principais características da escola graduada, um modelo utilizado no final do século XIX em diversos países da Europa e nos Estados Unidos para possibilitar a implantação da educação popular.
Segundo Saviani (2004), os grupos
escolares constituíram um fenômeno tipicamente urbano, já que no meio rural
ainda predominou as escolas isoladas por muito tempo. O Grupo Escolar foi uma
escola eficiente para a seleção e a formação das elites. A questão do ensino
para as massas populares só esteve presente na reforma paulista de 1920. Os
grupos escolares também eram conhecidos como escolas graduadas, já que possuíam
turmas seriadas.
A escola graduada fundamentava-se essencialmente na classificação dos
alunos pelo nível de conhecimento em agrupamentos supostamente homogêneos,
implicando a constituição das classes. Pressupunha , também, a adoção do ensino
simultâneo, a racionalização curricular, controle e distribuição ordenada dos
conteúdos e do tempo ( graduação dos programas e estabelecimento de horários),
a introdução de um sistema de avaliação, a divisão do trabalho docente e um
edifício escolar compreendendo várias salas de aula e vários professores. O
modelo colocava em correspondência a distribuição do espaço com os elementos da
racionalização pedagógica – em cada sala de aula uma classe referente a uma
série; para cada classe, um professor. (Souza, 2004, p. 114)
O ensino
primário era ministrado em quatro anos, com um programa enciclopédico com
matérias que proporcionavam uma educação integral - a educação física,
intelectual e moral. Previa a utilização do método intuitivo, o qual usava
diversificados materiais didáticos, laboratórios e museus. Exigia-se uma rígida
disciplina dos alunos (assiduidade, asseio, ordem, obediência, etc.). O tempo
escolar passou a ser controlado através do calendário. Havia também práticas
“ritualizadas” e “simbólicas”, como os exames finais, as exposições escolares,
as datas cívicas e as festas de encerramento do ano letivo. A escola graduada
foi também responsável por gerar novos “dispositivos de racionalização
administrativa e pedagógica”, necessários para o desenvolvimento da sociedade
capitalista, principalmente nos processos de urbanização e industrialização.
Foi ainda um projeto cultural a favor da nação, o qual educava mais do que
instruía.
... Ela reportava a uma clara concepção de
ensino; educar pressupunha um compromisso com a formação integral da criança
que ia muito além da simples transmissão de conhecimentos utéis dados pela
instrução e implicava essencialmente a formação do caráter mediante a
aprendizagem da disciplina social – obediência, asseio, ordem, pontualidade,
amor ao trabalho, honestidade, respeito às autoridades, virtudes morais e
valores cívico – pastrióticos necessários à formação do espírito de
nacionalidade. ( SOUZA, 2004, p. 127)
A idéia de implantação dos grupos
escolares difundiu-se para o restante do Brasil, fazendo parte da política de
diversos presidentes (ou governadores) de Estados. O modelo escolar paulista
foi implantado no Rio de Janeiro em 1897, no Pará em 1899, no Paraná em 1903,
em Minas Gerais em 1906, no Rio Grande do Norte
e no Espírito Santo em 1908, no Mato Grosso em 1910, em Santa
Catarina e em Sergipe em 1911, na
Paraíba em 1916, no Piauí em 1920, etc.
Bibliografia:
SAVIANI, Dermeval. O legado
educacional do “longo século XX” brasileiro. In: SAVIANI, Dermeval (et. al.). O legado
educacional do século XX no Brasil. Campinas, SP: Autores
Associados, 2004
SOUZA, Rosa Fátima de. Lições da
escola primária. In: SAVIANI, Dermeval ( et.
al.). O legado educacional do século XX no Brasil. Campinas,
SP: Autores Associados, 2004
____________________. Templos
de civilização. A implantação da escola primária graduada no Estado de São
Paulo ( 1890-1910). São Paulo:
UNESP, 1998.
VIDAL, Diana Gonçalves (org.). Grupos
escolares. Cultura escolar primária e escolarização da infância no Brasil (
1893-1971). Campinas, SP: Mercado das Letras, 2006
VIDAL, Diana Gonçalves. Culturas
escolares. Estudo sobre práticas de leitura e escrita na escola pública
primária ( Brasil e França, no final do século XIX). Campinas, SP: Autores
Associados, 2005